O silêncio dos conselhos

Há quem ofereça conselhos como quem "estende a mão", mas, às vezes, essa mão vem coberta de espinhos.
Afinal todo o conselho não pedido traz, escondido no seu interior, um julgamento.
É uma forma disfarçada de dizer: "se fosses mais como eu, estarias melhor".
Ao dizer a alguém o que "deveria" fazer, insinuamos que a sua forma de agir, sentir ou pensar é insuficiente, errada ou inferior à nossa.
O conselho não solicitado parte quase sempre de quem se acha numa posição de superioridade moral ou emocional.
Quem aconselha sem ser chamado esquece-se que cada vida tem o seu ritmo, o seu mapa secreto.
O que parece ajuda pode ser apenas uma forma de medir o outro pela nossa régua, de vestir-lhe as nossas certezas como se fossem universais.
Mas há uma sabedoria no silêncio:
de escutar sem corrigir,
de abraçar sem tentar moldar,
de permitir que o outro seja inteiro.
Há uma ética no silêncio, um respeito profundo pelo mistério que o outro é.
Dar espaço é, às vezes, o maior gesto de amor.
Porque o verdadeiro cuidado não fala alto:
escuta.
Texto: Memórias Sem Tempo, 2025
Imagem: via vecteezy